sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Caos Brasilis

Em sua definição original, o Caos é o vazio obscuro e ilimitado que precede e propicia a criação do mundo. O Caos em que vivemos se assemelha mais ao sentido de desordem que foi posteriormente adotado. Uso caos por ser a melhor palavra para definir a situação de nossa infraestrutura de transportes. O estado em que nos encontramos é fruto de décadas de total falta ou limitação de planejamento, há tempos o setor de transportes tem sido negligenciado e considerado questão não prioritária. É fácil atestar nossa fragilidade: nossos alimentos apodrecem em caminhões enfileirados nas estradas, nossa força de trabalho perde horas em seus trajetos diários e nossas vias estão entre as cinco que mais matam no mundo. Como chegamos a esse ponto? Será que ninguém nunca associou transportes com desenvolvimento econômico, qualidade de vida ou segurança? Penso que sim, nossos governantes sempre souberam dos benefícios de um bom planejamento, mas por diversos motivos preferiram tomar o caminho mais fácil onde decisões políticas se sobrepõem a decisões técnicas. O resultado é de entristecer. Se analisarmos pelo viés econômico, veremos que o Brasil está muito mal no raking mundial de competitividade, atrás inclusive de países africanos de menor IDH e PIB. Qual a participação do setor de transportes nisso? Enorme. Uma eficiente rede de circulação de mercadorias e pessoas é essencial para a competitividade de uma nação. Um dos fatores que diminui nossa eficiência é a forma desintegrada como nossa rede de tranportes foi construída e o investimento desigual entre os diversos modais. Nosso “planejamento” deu prioridade ao modal rodoviário sem levar em consideração as vantagens dos outros modais. A intermodalidade aqui é morosa e onerosa. A ausência de planejamento de transportes causou também um grande impacto sociocultural em nossas cidades. O desenvolvimento econômico empurrou as populações de baixa renda para as periferias, longe das oportunidades de emprego e educação. Os longos e desconfortáveis deslocamentos diários dessa população custam grande parte do salário mensal e geram uma discriminação socioeconômica, pela isolação e inacessibilidade dos serviços de bem-estar social. Outro grupo vítima do transporte urbano são os deficientes físicos, que também enfretam problemas de exclusão e inacessibilidade. Ainda em relação às nossas cidades, elas estão à beira do colapso. Nos últimos anos, nosso “planejamento” foi na contramão da tedência mundial e incentivou fortemente o uso do automóvel. Seria esse algum tipo de planejamento visionário que passou despercebido por todos os outros países?  Como dito antes, segundo a mitologia grega havia o Caos (desordem) e dele surgiu o Cosmos (ordem). Torçamos para que os gregos estejam certos.

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